segunda-feira, 31 de março de 2014

2.ª VISITA DE ESTUDO PELO CONCELHO

Hoje fomos visitar um monumento importante do nosso concelho:
o  Mosteiro de Santa Maria, em Lorvão
 

O Mosteiro de Lorvão encontra-se entre os mais antigos da Europa, já que a sua fundação remonta a meados do século sexto, de acordo com as memórias relatadas pelos cronistas monásticos, corroboradas por uma pedra de ornato visigótico que se encontra incrustada na torre dos sinos.
 

Nebulosos e lendários são os primeiros séculos da instituição, pois os mais antigos documentos escritos fidedignos apenas surgem na sequência da reconquista cristã de Coimbra de 878. Em 1205 sofreu o mosteiro profunda reforma, levada a cabo por D. Teresa e D. Sancha, netas de D. Afonso Henriques. A sua fama levou-as a alcançar a honra dos altares, em 1705. Os restos mortais das duas santas encontram-se atualmente na capela-mor da igreja. Esta reforma fez de Lorvão a primeira comunidade feminina da ordem de Cister em Portugal.
Quase tudo o que resta hoje em Lorvão é fruto das reformas dos edifícios operadas nos séculos XVII e XVIII.
O mosteiro ficou então com quatro dormitórios, noviciaria, hospício e hospedarias, coro, igreja, dois claustros, refeitório, sala capitular, enfermaria, botica, cartório, oficinas, celeiro e outras dependências, tudo em acelerado processo de degradação, implorando por uma intervenção a nível do restauro de pinturas, edifício e imagens. Além da igreja, coro e claustros, restam apenas os cascos do hospício e dois dormitórios. Na fachada voltada ao exterior destacam-se os arcos da portaria e da igreja.
A igreja em si é uma construção magnífica, levada a cabo entre 1748 e 1761, luminosa, de proporções clássicas e monumentais e decoração sóbria. Segue o estilo joanino de Mafra, mas numa visão mais intimista, que é já do rococó. Nela são especialmente merecedores de atenção a porta da entrada, de pau-preto e com aplicações de bronze dourado; as grandes telas de pascoal Parente, nos altares sob o zimbório, representando S. Bernardo e S. Bento; os túmulos de prata de Santa Teresa e Santa Sancha, feitos em 1715 pelo ourives portuense Manuel Carneiro da Silva, que se encontram nos altares da capela-mor.
 
 
Na Sacristia podem-se admirar três grandes tábuas pintadas em 1623 por Miguel Paiva, além de outras obras de pintura, designadamente dos italianos Agostino Masucci e Pascoal Parente. Na Sala do Capítulo encontra-se provisoriamente instalado o museu, que tem peças de grande merecimento artístico. Para além das pinturas, cerâmicas, mobiliário e tapeçaria dos séculos XVII e XVIII, destacam-se as esculturas de São Bento e São Bernardo, de cerca de 1510, além de um Cristo Crucificado do século quinto. Entre os paramentos admire o véu da píxide, bordado a ouro e aljôfar, assim como um pluvial que, além de belo, foi o único no mundo a ser usado por uma mulher, abadessa do Mosteiro, depois de especial autorização papal. Das peças de ourivesaria são notáveis uma Virgem Maria com o Menino, do início do século XVII, e a custódia, datada de 1760, primorosa obra da ourivesaria de Lisboa.
 

A separação entre a igreja e o coro é feita através da já mencionada grade de ferro forjado, única no seu género no país. Sobre ela deveria erguer-se o órgão de 61 registos, obra de António Xavier Machado Cerveira, datado de 1795 e com a característica invulgar de ter duas fachadas opostas, compostas em delicado rococó.
As suas peças jazem no chão, encostadas no canto do cadeiral que se encontra vazio devido ao incêndio que aí deflagrou em tempos e que consumiu parte do cadeiral de coro, o maior de Portugal. Terminado pouco antes de 1748, é o que mais desperta a admiração num mosteiro velho e cansado e esperar por cuidados. As cadeiras do nível superior são de altos espaldares, únicas no país. Possui delicados ornatos, pela espiritualidade dos santos esculpidos sobre as cadeiras (todos são diferentes) e pela nota de fantasia dada pelas máscaras existentes na parte inferior dos assentos (igualmente diferentes). O jacarandá preto do Brasil e a nogueira, únicos materiais utilizados, na sua cor natural, contribuem em grande parte para acentuar a sua beleza.
 
O claustro é um edifício harmonioso mas despido de vida e tido ao abandono, apesar de edificado em duas campanhas: 1597 (arcada do piso térreo) e 1677 (sobreclaustro). É bordejado por 13 capelas devocionais, atualmente despojadas, construídas durante todo o século XVII, a partir de 1601.